23 de fev. de 2012

Duplicidade

Duplicidade
Não há como negar, que de tudo
Quanto ocorre, quase nada
Nos cabe determinar
Estamos quase sempre prontos
Silentes, a observar
Nossa própria história.
Outras coisas há que
Já não conseguimos
Somente sossegar, procuramos
Então, um modo que justifique
Que se enquadre, nos aquiete
Não se permite incomodar
Quando um coração não cabe
Todos os sentimentos que a mente
Talvez, nem quisesse inventar, procuramos
Todos os possíveis subterfúgios
Que justifiquem
outro coração encontrar.

30 de jan. de 2012

A Pescaria. Mata Cerrada.

A Pescaria.

À beira do lago mais uma história se formava em Mata Cerrada. Empenhados, Tico e Teco lançavam na água as primeiras iscas. Toim ajeitava uma fumaça para espantar os borrachudos. Na água, os peixes seguiam, serenamente, suas próprias idéias, indiferentes aos anseios que os rondavam. A relva verde da margem escondia olhos atônitos, interrogativos que num rápido piscar se reabriam para não perder a cena. Os sapos observavam curiosos. A escuridão envolvia cada recanto da mata, era lua nova. Todo bom pescador conhece a melhor lua para se pescar. Vejo que se entendessem o que acontecia não correriam tão rápido naquele momento, mas por hora tudo ia bem, apesar da falta de peixes.
As lendas rodeavam o Lago do Galope, mesclando-se em meio à falta de luz. Ao longe, um corujão soltou pavorosamente o primeiro grito da noite. Toim queimou o dedo, poderia ser o grito de um Xexen, haviam sumido, mas quem sabe. Os três olharam para o banco vazio. A mata parecia apertá-los com seu movimento. A  bicharada estava em polvorosa.  As lendas que, antes, apenas rondavam, tomaram de sorrateiro suas mentes. Esperavam que Tamirão fosse à pescaria, pode até ser que ele iria, mas duas coisas o impediam. Uma, naquele mesmo lugar houve a briga que os separou.  Briga essa, que ocorreu pelo trio ter esquecido seu banco, também deixaram os peixes com fome, acharam saborosamente vistosas as iscas e as comeram. Isso, sem falar no lanche do pobre garoto que, segundo Teco, fora roubado pelo Caboquim do Brejo. Fato que, na época,  deixou Tamirão indignado, pois bem sabia de longa data que o Caboquim só comia carne fresca. Dois, os irmãos simplesmente não determinaram quem chamaria o ex-amigo, pelo que ninguém o fez. A demora os fez perceber o erro, não haveria  ali a tão esperada reconciliação. Tico pegou o sanduíche que havia levado e o comeu, não precisaria mais dele para provar a fraude do Caboquinho, ele comia sanduíches.
Mata Cerrada nesse tempo, não tinha mais em si a antiga fertilidade para grandes aventuras, a modernidade tratou de permear o sangue de um povo e deixá-lo com pouca tinta. Grandes histórias há muito não floresciam mais aqui. Uma chama se acendeu, tentando contornar as adversidades. Antes que o corujão completasse seu grito, um arrepio percorreu os três amigos. Nos olhos de Toim as chamas se multiplicaram, instantaneamente, as pernas  impulsionaram-no, de fato, só poderia ser um ataque, os Xexens haviam voltado para retomar seu território. Sem nada ser dito, Tico e Teco sequer esperaram o ar alcançar os pulmões para ultrapassar o amigo, sempre foram os mais rápidos nessa modalidade. Teco estatelou-se no chão, uma pedra encontrara seu pé que sem unhas cismou em sangrar. Tico que de afobado que foi, à beira lago, numa parte demasiadamente úmida, afundou-se ao meio, pelo que as calças resolveram ficar por ali mesmo. Toim que nada encontrou, foi o primeiro a chegar ao Vilarejo, branco que só,  e sem fôlego, ainda assim não lhe gastaram cinco segundos pra incendiar a primeira notícia. Os Xexens haviam voltado. Teco que da outra parte chegara se arrastando, contou que encontrara a cabeça da mula e que o animal que há tempos a levara, quase lhe arrancou a perna. Tico sujo que só, e menos vestido que os outros, socorrido por um grupo, desabafou, após uma dura luta escapara das garras do Caboquinho.
Mata Cerrada reacordava de seu sono, não havia dúvidas, era a hora decisiva, ânimos exaltados, novas perspectivas. Frio e escuridão se fundiam, elaborava-se mais uma manhã, mas a noite ainda não acabara.

6 de jan. de 2012

O Tempo

Depois de um período sem postar nada, resolvi relatar sobre ele.

O tempo.
O tempo não quis me contar
Que das histórias que viriam
Nem todas estariam a me alegrar
Que dos segredos muitos
Às vezes, escondia para si
A melhor parte de minhas aspirações.
Dos segredos que contei-lhe
Não fez caso, não quis
Compartilhar, das façanhas, artimanhas
E amores, que jamais almejara conquistar.
Não havia como simplesmente entender
Muito menos raciocinar, pois
Por mais que me falasse
De que valeria saber das surpresas
E incertezas que trazem à vida
Um aroma fugaz
Um sonho noturno, um suspiro
Taciturno, esperto
O sublime sabor das boas notícias
Que não se esperavam
Que não pudemos escolher
Não nos coube debater
Não queríamos aceitar
 Se fizeram belas, simples, eternas
Sem planos, nem preocupações.